Se não fosse dança, era Débora

Leonina, Débora Polistchuck diz não ter um ego tão grande quanto as pessoas pensam (FOTO: Gabriela Isaias)

Ela não precisa fazer nenhum esforço para chamar atenção. Basta ser quem sempre foi: sensual sem parecer forçada, com toda a pinta de modelo e dona de uma voz suave. Estudante de Jornalismo na UFRJ, Débora Polistchuck diz não gostar do próprio corpo. "Se eu pudesse, nasceria de novo com outra barriga!", diz. Bobagem. Essa modéstia faz parte do charme de Débora.

Aos 23 anos, ela não sabe mais onde começou a sua história com a dança: desde os três anos sempre esteve dançando. Já fez peças, shows, musicais e hoje se divide entre ensaios, faculdade e aulas de canto. No sofá de sua casa, em uma tarde nublada, Débora falou sobre a surpreendente relação que tem com o seu corpo, a descoberta do judaísmo e curiosidades divertidas da sua vida de garota carioca.

Aquela Garota da Foto: Como a dança entrou na sua vida? Quando você começou a dançar?
Débora: Eu não lembro exatamente quando a dança entrou na minha vida porque comecei a dançar com uns três anos, fazendo aula de babyclass e não parei mais, só fui aumentando a quantidade de dança: comecei com balé clássico, depois entrei para o jazz, pro hip hop, sapateado, dança moderna, dança espanhola, um pouco de ginástica rítmica no colégio… Fiz de tudo. A dança sempre esteve comigo em paralelo à escola, faculdade, qualquer coisa. Eu sempre estive dançando.

AGF: Desses ritmos todos que você fez, em qual você se sente mais livre dançando?
D: É muito difícil escolher porque eu gosto de dançar tudo! Mas o jazz é um estilo que eu amo de paixão. Me identifico muito, meu corpo se adapta muito bem. Hoje em dia tem o jazz contemporâneo, que não é tão anos 80, com mais influências atuais, novos movimentos. Eu me sinto muito confortável dançando jazz e adoro criar movimentos dentro desse estilo.

A dançarina contou que desde criança adorava assistir telejornais  (FOTO: Gabriela Isaias)
AGF: Você dançou a vida toda. Não era mais provável que você fizesse faculdade de Dança?
D: Muitos amigos meus fizeram faculdade de Dança aqui no Brasil, mas eu ainda acho que não é uma coisa muito sólida. Eu queria fazer outra atividade pra ter um suporte. É importante pra todo artista ter uma segunda opção e eu fiz uma escolha maravilhosa porque amo a minha faculdade! Aprendi muito e inclusive levo muita coisa do Jornalismo para a Dança. Mas a minha maior motivação foi a minha mãe, que é médica e jornalista. Então eu vi que posso ser duas coisas. Talvez você tenha que se dedicar a mais de alguma coisa durante um tempo, mas você pode ter duas, três ou mais profissões em uma vida só.

“Estou caminhando pra me tornar uma mulher livre, durante muito tempo da minha vida me importei demais com o que os outros iriam pensar"

AGF: De que forma você leva o Jornalismo para a Dança? Também ocorre o contrário, de levar a Dança para o Jornalismo?
D: Total! Eu levo um pouco de cada coisa pra cada lado. Por exemplo, praticamente todos os meus trabalhos da faculdade são relacionados a Dança ou às artes em geral, seja uma matéria sobre um artista, uma peça de teatro, musicais ou vídeos. E o contrário também ocorre. Quando vou dar uma entrevista sobre algum trabalho artístico que eu esteja fazendo, sei o que o jornalista quer e precisa ouvir pra fazer uma boa matéria. É muito interessante observar como as coisas se encaixam, até porque tanto a Dança quanto o Jornalismo lidam com a comunicação entre as pessoas. Gosto muito da área de Jornalismo Cultural e, se um dia eu quiser ser uma crítica de teatro ou dança, vou saber sobre os dois lados porque já estive tanto em uma área quanto na outra.

Débora ficou longe da dança por um ano e praticou voleibol, mas só pensava em voltar a dançar (FOTOS: Gabriela Isaias)

AGF: Você se considera uma mulher livre ou você procura corresponder às expectativas das outras pessoas?
D: Difícil essa pergunta. Eu acho que estou caminhando para me tornar uma mulher livre. Durante muito tempo da minha vida me importei demais com os outros e com o que eles iam pensar. Hoje em dia tento diluir isso para tornar as coisas mais simples. Digo que sou livre no sentido de não deixar de fazer nada por causa de alguém. Quem me conhece sabe que eu sou assim, que corro muito atrás do que quero e, que se eu não quiser, não vou fazer.

“Aprendi a aceitar o meu corpo e os pontos positivos nele"

AGF: E como é a sua relação com o seu corpo hoje?
D: Cara, a minha relação com o meu corpo é bem complicada! (Risos) Eu não gosto dele, não acho bonito. Mas aprendi a aceitar e achar pontos positivos. Hoje em dia, mesmo tendo emagrecido, continuo detestando a minha barriga. Se eu pudesse nasceria de novo com outra barriga! Também acho as minhas costas gordas, acho que podia ter mais bunda… (Risos) Mas, assim, eu aceito, né? O que eu posso fazer? Quando era mais nova tinha muita vergonha de ficar de biquíni porque era um pouquinho mais cheinha. Mas hoje em dia não chega a ser incômodo. Eu só não gosto de algumas coisas mesmo.

AGF: Você faria alguma plástica?
D: Não, não faria nenhuma intervenção cirúrgica. Não sei se é por medo, talvez por precaução. Acho muito agressivo ao corpo, acredito que existam outras formas de conseguir o que a gente quer. Mas, se eu pudesse, teria outra barriga. 

Antes de cursar Jornalismo, Débora fez um período do curso de História na UFRJ (FOTOS: Gabriela Isaias)

AGF: Bem, estamos em uma onda muito feminista. Nunca tivemos tantas informações circulando sobre o direito das mulheres. A sua casa é majoritariamente feminina, certo? Como foi crescer cercada de mulheres? 
D: Eu tive uma criação muito boa, não só pelo meu pai, mas principalmente por causa da minha mãe. Ela é uma pessoa muito informada e me fez refletir sobre várias questões conversando comigo. Então, como aqui em casa tem muitas mulheres, tudo acaba sendo muito natural. Todo mundo anda de calcinha, sem sutiã… (Risos) Minha mãe fala que parece uma oca: todo mundo andando de peito de fora! (Risos) Acho muito bom que essa corrente de conscientização sobre os direitos das mulheres esteja crescendo.

“Na escola eu tinha vergonha do meu cabelo"

AGF: Você sempre aceitou seu cabelo cacheado? Já alisou ou pretendeu alisar alguma vez?
D: A minha mãe sempre disse que o meu cabelo era maravilhoso. Se o meu cabelo é cacheado hoje em dia, é porque ela me proibiu de fazer escova progressiva. Quando eu tinha 13 anos todo mundo tinha alisado ou queria ter o cabelo liso. Então eu tinha vergonha na escola por causa dos meus cachos. Tentava puxar pra ele ficar liso, mas minha mãe sempre disse que o meu cabelo era lindo e graças a Deus ela me proibiu de alisar!


Débora conversa desde criança com sua mãe sobre temas como racismo, feminismo e homofobia (FOTO: Gabriela Isaias)


AGF: Qual é a sua religião?
D: Eu sou judia porque a minha mãe é judia e, na religião, quem nasce de judeu é judeu. Meu pai é católico, então escolhi ser judia para além do fato de ter nascido de uma. Eu não frequento a sinagoga porque a minha mãe não acompanha a comunidade judaica e a minha família judia mora em outro estado. Então acabei não sendo criada dentro da religião. Hoje em dia até reclamo com ela porque eu queria saber algumas coisas e ser mais próxima do judaísmo. Mas eu me sinto muito judia e acho que isso é o mais interessante. Ano passado fui para Israel em uma viagem com jovens judeus chamada Taglit. Foi ali que me dei conta de que realmente sou judia. Coloquei a mão no Muro das Lamentações e chorei muito. Fui ter mais contato com o judaísmo em 2015, nessa viagem. Foi quando eu falei “opa, sinto alguma coisa aqui” e disse pra mim mesma “eu sou judia”.

AGF: O judaísmo não acredita em outras vidas, mas se você tivesse oportunidade de voltar com outra vida, como você escolheria vir?
D: Eu queria muito ser um pássaro pra poder voar. Mas um pássaro grande, nada de passarinho, não! Queria ser uma ave bem grande e bonita, bem colorida pra voar bastante! (Risos)

AGF: Você é uma pessoa muito animada. O que te deixa deprê?
D: Pessoas com energia negativa me deixam muito pra baixo. Eu não acredito em espíritos, essas coisas, mas tenho muito isso, de sentir energia. Quando estou perto de pessoas com baixa vibração, elas me puxam pra baixo de uma maneira muito estranha.

Foi em uma viagem para Israel que Débora se descobriu judia (FOTO: Gabriela Isaias)

AGF: O que as pessoas dizem sobre você que você não concorda?
D: Dizem que eu sou magra! (Risos) E eu não me acho magra. Agora, sou leonina, né? Então adoram falar que eu tenho o ego grande, que só penso em mim mesma e me amo muito. Olha… (Risos) Às vezes eu falo de mim, mas não me acho tudo isso, não tenho esse ego todo como os leoninos. Às vezes também falam que eu sou calma, meio zen, porque muita gente que me conhece também conhece a minha irmã e ela é assim. Só que tem gente que acha que sou calma porque sou quieta. Eu não sou zen, sou quieta!

AGF: Agora vamos para as perguntas mais divertidas! A sua casa está pegando fogo com todas as suas coisas dentro. Depois de salvar a sua família e os seus bichinhos de estimação, você tem a chance de voltar lá uma vez e salvar um objeto. O que você salvaria?
D: Minha caixinha de dinheiro porque eu não quero ficar pobre, não! (Risos)

“Eu era fã de Rebelde, queria ser a Dulce Maria! (Risos)"

AGF: Qual é o seu guilty pleasure? Alguma coisa que você gosta muito e tem vergonha de falar para as pessoas que você gosta?
D: (Risos) Então… Eu simplesmente não só gostava de Rebelde como também era muito fã! Fui no show com gravatinha, boné e a blusinha da novela. Tinha as temporadas 1 e 2 em dvd, sabia todas as coreografias e todas as músicas do show! Além disso, eu queria ser a Dulce Maria, mas sempre me colocavam pra ser a Mia porque eu sou loira. Sempre fiquei revoltada com isso!

AGF: Qual o momento mais embaraçoso pelo qual você já passou?
D: Eu estava de olho em um cara lindo e maravilhoso, só que depois que fiquei com ele nós nunca mais nos falamos, ele sumiu. Uns três meses depois o garoto apareceu puxando assunto comigo. Só que ao mesmo tempo em que estava conversando com ele no Whatsapp, também conversava com um amigo que eu tenho em comum com esse menino que eu fiquei. Aí eu contei pro meu amigo que depois de muito tempo o garoto tinha vindo falar comigo e eu estava furiosa porque ele tinha sumido. Nesse dia eu estava me arrumando rápido porque tinha um compromisso, e mandei um áudio pro meu amigo detonando o cara. Até aí tudo bem, entrei no carro a caminho do lugar que eu tinha que ir e quando abri o Whatsapp, gelei! Me dei conta de que não tinha mandado o áudio pro meu amigo, mas sim para o garoto! (Risos) Foi o dia mais vergonhoso da minha vida, eu não sabia onde enfiar a cabeça nem o que eu falava!


A estudante de Jornalismo conta que muitas vezes dá mais valor às amizades que à família (FOTO: Gabriela Isaias)

AGF: Você faz aula de canto, você dança e também já fez várias peças. Quais são os seus projetos pro futuro?
D: Melhorar meu canto, continuar dançando e começar a estudar teatro porque quero entrar no ramo de musicais. Também espero produzir vídeos pois gosto muito de documentários. E coreografar! Quero muito virar coreógrafa de musicais, shows e eventos de dança, é algo que eu gosto a beça.

AGF: Imagine que você vai ler essa entrevista daqui a 10 anos. Que recado você daria a você mesma no futuro?
D: Eu diria “Oi, Débora. Olha, você com 23 anos é muito ansiosa e quer muita coisa ao mesmo tempo. Você tem estudado bastante, ido atrás dos seus objetivos e eu espero que você tenha conseguido isso tudo que você sonhou. Não deixe de fazer nada presumindo o que os outros vão pensar e sempre lembre de ser quem você é: verdadeira, sincera e transparente. Continue amando suas melhores amigas do jeito que você ama hoje, cultive as suas amizades. Ah! E continue dançando e amando a dança!”


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LIGEIRINHAS

O que te tira o sono? Audições e testes.
Um medo. Cobras.
Uma frustração. Não conhecer/lembrar da minha avó.
Uma saudade. Ter férias.
Café ou Toddynho? Toddynho, óbvio!
Um superpoder. Ler pensamentos.
Maternidade. Sim, uma menina.
Um filme. Hair.
Foi golpe ou não foi golpe? Foi MUITO golpe.
Manda nudes? Jamais.
Três perfis no Instagram. @isthatjessiej, @gabrielaisaiasphotos e eu @deborapolistchuck (me segue aí, vai!)
Um cheiro. Tommygirl.
Uma pessoa. Beyoncé.
Uma palavra. Ahloka!


⇢  Para ver mais fotos de Débora clique aqui e acesse o meu Flickr.


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